“A perfeição existe quando gastronomia e vinho se encontram.”
Rui Paula
Atrevemo-nos a acrescentar a esta frase, um cenário de sonho… a Casa de Chá da Boa Nova. Esta que foi uma das primeiras obras do arquitecto Álvaro Siza Vieira, há muito faz parte do histórico do nosso romance… num imaginário que permanece inalterado, sempre que voltamos recebe-nos assente nas rochas, entre o discreto e o imponente, ao som das ondas revoltas. No local marcam ainda a maresia e a humidade tão típicas das praias do Norte, numa paisagem cinematográfica complementada pelos também icónicos Farol e Capela da Boa Nova.
Um cenário imortalizado por António Nobre, nesta poesia inscrita na rocha:
“Na praia lá da Boa Nova, um dia,
Edifiquei (foi esse o grande mal)
Alto castelo, o que é a fantasia,
Todo de lápis-lazúli e coral!”
Foi por isso com grande satisfação que acompanhámos a notícia da sua reabilitação, após os dois anos em que esteve ao abandono. O Chef Rui Paula abraçou o projecto, e é neste espaço de charme – Restaurante Boa Nova – que dedica toda a atenção que é suposto dedicar-se a um sonho, concebendo um tipo de cozinha em que, como na obra, é o detalhe que a torna graciosa.
Acompanhem-nos nesta visita, e num post mais longo do que os habituais, porque a Casa assim o merece, e os momentos também.
O ambiente é elegante e, como não poderia deixar de ser, muito vintage. Atreveríamo-nos até a um estrangeirismo, uma definição numa só palavra… Classy.
Vamos entrar e descer para um aperitivo, um Porto Tónico servido na Sala de Chá, onde somos envolvidos pelos vários quadros de paisagem, em forma de recorte.
A causar boa impressão logo desde o início…
Os Snacks do Chef
. O Cone de truta e crème fraîche
. O Bacalhau à Espiritual
. O Macaron de Feijoada de Choco
. O Croquete de Sapateira
. A Tapioca com Ceviche de Caratinga
. O Mexilhão com molho marinheiro
… a antever a inspiração de uma gastronomia muito ligada ao mar e sua beleza, numa apresentação tão perfeita quanto deliciosa.
Menu Atlântico
. A Ostra e o Pepino (frescura, textura e elegância numa saudação do Chef que se come à colher)
. Calçada Portuguesa (vieira e aipo)
. Carabineiro (e as três texturas de ervilha e ovo de cordoniz)
. Robalo no seu habitat (bivalves, algas e salsafi)
. Pescada de Anzol (plâncton e perceves)
. O Bacalhau (lombo, bochecha, língua e feijoada de samos)
. Arroz de Lula (arroz tufado e molho bordalês)
. Os Cítricos e o Ivoire (a Costa do Marfim – Côte d’Ivoire – é líder mundial na produção e exportação dos grãos de cacau utilizadas no fabrico de chocolate!)
Deste menu destacamos… o Robalo e os seus sabores delicados… o Bacalhau, em todas as suas vertentes cozinhadas “no ponto”, com uma apresentação surpreendente e belíssima… e o Arroz de Lula, porque para além da sua já famosa imagem, o recheio não podia ser mais saboroso e tradicional.
Menu do Mar e da Terra
. O Chicharro e o Tomate (a saudação do Chef)
. A Enguia (beterraba, tutano e pata negra)
. Lagostim (porco, ostra e maçã)
. Caril do mar (carabineiro, vieira e mexilhão)
. Caldeirada (peixe da nossa costa, lula e petinga)
. Entre costela de wagyu (cantarelo, amaranto e couve-flor)
. Feijoada à transmontana (feijão, enchidos e legumes)
. Espargos, beterraba e romã
Entre este desfile de delícias houve ainda tempo para:
. A Selecção de Queijos Nacionais ( entre vários, o Queijo da Ilha, o Queijo da Serra, o Côvo de Oliveira de Azeméis, os queijos de Évora e Nisa, numa deliciosa combinação com os frutos secos e o doce de ruibarbo )
. O Bonsai e as esferas
. Uma visita à cozinha e à garrafeira, onde foi servido o limpa palato.
A escolha dos vinhos é muito bem trabalhada pelo escanção Carlos Monteiro, que neste almoço nos serviu:
. Borges Coroa – Porto Branco
. Messias espumante Blanc de Blancs Grand Cuvée 2010
. Ninfa espumante Pinot Noir
. Domäne Wachau 2011 Grüner Veltliner Áustria
. Albariño Zarate Tras da Viña
. Verdelho da Madeira Terras do Avô
. Dominó Branco 2012 Monte Pratas
. Diga Tinto 2008 Petit Verdot Campolargo
. Baga ao Sol – Fita Preta Vinhos, Alentejo
. Alves de Sousa Reserva Pessoal branco 2006
. Borges Colheita Tardia – Dão
. LBV Nieeport 2011 – engarrafado em 2016.
E não poderíamos deixar de dizer, que foi com muita satisfação que vimos o nosso BEBESPONTOCOMES Dão presente nesta que é uma carta de vinhos premiada!
Despedimo-nos num ambiente muito mais descontraído do que o imaginado – o que para nós é uma nota muito positiva – e só possível na medida da boa dinâmica que existe entre a equipa e a empatia que criam com o cliente. Estamos no Porto.
História
A Casa de Chá da Boa Nova localiza-se na zona da Boa Nova, junto ao Farol de Leça da Palmeira. Esta casa de chá e restaurante está instalada no edifício que foi uma das primeiras obras do arquitecto Álvaro Siza Vieira (1958 – 1963). Construída sobre as rochas, a apenas dois metros da água, e o mar como fundo, é um dos locais mais procurados pelos amantes da arquitectura. Em 2011 foi classificada como Monumento Nacional.
O edifício foi concebido na sequência de um concurso levado a cabo pela Câmara Municipal de Matosinhos em 1956, do qual saiu vencedor o gabinete de arquitectura de Fernando Távora. Foi ele próprio que escolheu este local para a sua implantação, nos rochedos da Boa Nova, e mais tarde entregou o projecto a um dos seus colaboradores, Álvaro Siza Vieira, que estava a dar os primeiros passos na sua carreira.
Para quem quiser conhecer mais um pouco da história deste projecto de arquitectura e da Casa de Chá da Boa Nova deixamos aqui um episódio do Programa da RTP “Visita Guiada“ com Paula Moura Pinheiro e o arquitecto Manuel Graça Dias.
Restaurante Boa Nova
Av. da Liberdade (Junto ao farol), 4450-705 Leça da Palmeira, Portugal
COORDENADAS GPS: N41° 12′ 10.21” W8° 42′ 52.87”
Nota: No Restaurante Boa Nova é possível escolher entre 3 menus de degustação, o “Boa Nova” (4 pratos – 85€ + 40€ harmonização com vinhos) e os menus “Atlântico” e “do Mar e da Terra” (8 pratos – 120€ + 75€ harmonização com vinhos). A carta inclui ainda 3 pratos clássicos do Chef, de peixe/marisco, para duas pessoas (80€).