“Diz a lenda que quem beber a água da fonte do Gadanha fica irremediavelmente preso e enfeitiçado por Estremoz e suas gentes.”
Por terras do Alentejo sempre se comeu bem, não vimos aqui dizer nenhuma novidade, aliás todos conhecem certamente vários locais que possam recomendar a amigos e família. No entanto, há algum tempo que procuramos algo mais do que os secretos de porco preto ou as plumas com batatas fritas, que encontramos em qualquer restaurante alentejano, e agora também por todo o lado. Gostamos de descobrir outros sabores e espaços… que nos aparecem recomendados ou simplesmente por acaso.
É o caso de Estremoz, onde a oferta gastronómica é diversificada e de alto nível. Este ano estivemos por lá, e decidimos ir conhecer a Mercearia Gadanha… não propriamente para “descobrir a pólvora“, porque ela é já muito afamada, mas para apreciarmos o que de tão bem se fala!
Logo o nome nos suscitou muito interesse, uma vez que Gadanha tem muitos significados:
. uma ferramenta utilizada na agricultura para ceifar cereais ou cortar erva. Com uma lâmina na extremidade de um cabo de madeira ou metálico, uma pega perpendicular no extremo oposto e outra pega no meio para fornecer controle sobre a posição da lâmina, faz com que o agricultor se desloque oscilando a gadanha de um lado para o outro, ceifando cereais ou erva com facilidade;
. um doce local de Estremoz, confeccionado com amêndoa e ovos;
. o Lago do Gadanha: O “Gadanha” de Estremoz é uma escultura de autor anónimo, que se pensa ter sido um frade a esculpir, com destino a um tanque no Convento dos Congregados. Simbolizou à nascença, Saturno, o Deus da Abundância. Na mão direita, a sua longa foice, simboliza a colheita dos alimentos, enquanto que a ampulheta que transporta na sua mão esquerda, revela a passagem dos tempos, a vida e a morte, bem como o transmitir do conhecimento de pais para filhos. Algures, pelo fim do Século XIX, numa noite e à revelia, foi misteriosamente transferida para o local onde hoje se encontra, bem no meio do lago. Devido à grande foice que a figura ostenta, o povo de imediato a baptizou de Gadanha e assim ficou, bem como lhe foi alterando o significado, passando a simbolizar o efémero, a fugacidade da vida e a celeridade do tempo, mas esta Gadanha acaba por ser eterna, permanecendo na memória colectiva da cidade.
E porque a vida é curta… depois de termos conhecido este Lago do Gadanha, ex libris da cidade de Estremoz, fomos à Gadanha que mais nos interessava… a Mercearia!
Encontrámos uma verdadeira taberna moderna, com uma decoração actual muito bem conseguida, pontuada de detalhes de design vintage. Mas essencialmente um ponto de encontro de amigos e turistas, um espaço fantástico para almoçar, jantar e para picar.
Quando entrámos, perdemo-nos um bom tempo a namorar a oferta de enchidos, queijos, patés, e vinhos, sobretudo da região, muito à imagem de uma adega… mas também de bolachas, chás, compotas e chocolates.
O nosso almoço foi simples (porque ainda tinhamos uns quilómetros à nossa frente), mas não menos delicioso… A começar pelo pão alentejano, que na nossa mesa de férias não pode faltar, e neste caso apresentou-se bem aperaltado num saco de pano à antiga e acompanhado de uma gulosa manteiga de pimento assado. Para a entrada fomos surpreendidos com um “mise en scène” de ovos, batatas fritas e paio… isto porque, quando chega à mesa, ainda vem por acabar, e é só nessa altura que se mistura o ovo com a batata palha e o paio.
Tão simples e tão bom…
acompanhado de um copo de vinho branco Reserva do Comendador 2011… A repetir e a experimentar em casa também! Para prato principal escolhemos o lombinho de porco de bolota, com maçã e batata esmagada, acompanhado de uma cerveja de trigo artesanal que fez as nossas delícias. Ficaram por experimentar alguns pratos icónicos da casa, entre eles o bolo de chocolate e o mil folhas com bacalhau e presunto.