Hoje falamos da arquitectura do vinho que se faz de projectos ambiciosos.
Fomos conhecer a Herdade do Freixo e a sua adega inovadora e única na Europa.
Totalmente subterrânea, foi idealizada para potenciar as melhores características da uva e simultaneamente preservar a paisagem rural, ser discreta e recatada, numa posição servil para com a vinha e os cerca de 1000 hectares de puro Alentejo que a rodeiam.
Construída em profundidade, num total de 3 pisos, 40m abaixo da vinha, com uma arquitectura arrojada, cumpre o objectivo principal de não se sobrepôr à vinha e ao terroir, deixando à vista a maior riqueza que é a paisagem. Quando a vinha de Syrah, que foi plantada na cobertura, atingir a fase adulta, o edifício irá ficar completamente fundido com a natureza.
Sabíamos que teria de fazer parte do nosso percurso no Alentejo este ano, uma vez que se trata de enoturismo de arquitectura e design. E assim rumámos até ao Freixo.
Com a adega literalmente escondida debaixo do chão, tivemos algumas dificuldades em ter a certeza que estávamos no sítio certo. Uma vez lá dentro, não temos de todo a ideia de estar num espaço subterrâneo. A luz natural é imensa.
As linhas em forma de caracol são elegantes e simples.
O projecto de arquitectura foi assinado por Frederico Valsassina, e assentou numa ideia base de funcionalidade das diferentes fases do processo de chegada das uvas, tudo feito por gravidade. O traçado da obra contribui para a redução das amplitudes térmicas durante o ano, promovendo a manutenção de uma temperatura estável, ideal para a adequada evolução dos vinhos e preservação da sua frescura e equilíbrio.
Quis-se simultaneamente preservar o potencial da uva e respeitar o vinho durante a fermentação e estágio, e assim a utilização de bombas foi totalmente excluída em todo o percurso, sendo utilizada apenas a gravidade natural ao longo do processo produtivo.
Pureza, transparência e simplicidade.
A adega nasce já adaptada ao enoturismo, de forma a que os visitantes consigam circular sem interferir com os trabalhos na área de produção. A estrutura dá acesso a todos os pontos do edifício, através de uma rampa em espiral, sempre com janelas para que possamos observar os vários ciclos do vinho, como é o caso da vista para a sala das barricas.
Betão, xisto e madeira de carvalho, foram os elementos – base utilizados para nos fazer lembrar as diferentes fases do próprio vinho – a adega, a vinha, o estágio.
Na conjugação de tudo, arquitectura, design e pessoas, criou-se um ambiente muito especial de volta às origens e ao respeito pela essência da terra.
Os Vinhos:
Na construção deste projecto inovador, também ao nivel dos vinhos se pretendeu fazer a diferença.
Desde logo, na selecção das castas, procurou-se as que melhor se adaptariam ao clima e aos solos da Herdade, mas também as que pudessem acrescentar características como a frescura, a elegância e o potencial de longevidade.
Assim, nas castas tintas, além da Alicante Bouschet e da Touriga Nacional, apostaram também no Cabernet Sauvignon e no Petit Verdot. Para os vinhos brancos, seleccionaram as castas Arinto, Alvarinho, Chardonnay e Sauvignon Blanc. Existe ainda uma vinha de Riesling, mas neste momento em fase experimental.
Pedro de Vasconcelos e Souza é o enólogo (mentor, proprietário e administrador) deste projecto que nasceu da sua ambição de erguer a Herdade do Freixo, propriedade da família, conjuntamente com parceiros investidores, para produzir vinhos clássicos e de terroir, protegendo simultaneamente o seu meio ambiental.
Mas nem mesmo com todos os processos de produção mais avançados se consegue contornar um dos elementos essenciais para a qualidade dos vinhos… o tempo… As vinhas são muito jovens, têm cerca de 7/8 anos, e acresce o facto de todos os vinhos estagiarem em barricas de carvalho francês novas, alguns com estágio adicional em garrafa. Pelo que só recentemente chegaram ao mercado as primeiras colheitas de 2014.
A nossa prova versou sobre os vinhos em comercialização:
Freixo Reserva Tinto 2014, Freixo Reserva Branco 2016, Freixo Chardonnay 2016 e Freixo Sauvignon Blanc 2016.
(O Freixo Family Collection 2014 não tivemos oportunidade de provar neste dia, mas comprámos uma garrafa para abrir em casa, e para já ainda está bem guardadinha!)
Não vamos eleger nenhum em particular, até porque não chegámos a acordo sobre os nossos favoritos.
Podemos dizer que, no geral, ficámos muito bem impressionados com o perfil tanto dos vinhos brancos como dos vinhos tintos.
São essencialmente vinhos frescos, num registo diferente do clássico alentejano, com um perfil próprio. Vinhos de prazer que não vão deixar o consumidor indiferente, e que aconselhamos sejam servidos à mesa, pelas suas características gastronómicas.
E não haveria melhor forma para acabar esta visita… bons vinhos, uma tábua de queijos e enchidos regionais e “dois dedos de conversa” com a nossa simpática cicerone Lisa Serrachino sobre o nosso amor ao Alentejo e ao enoturismo em particular.
Herdade do Freixo
7170–112 Freixo, Portugal
COORDENADAS GPS: N 38° 41′ 21.5” W 7° 40′ 19.95”
Enoturismo:
. As visitas decorrem de segunda a sexta-feira, às 11h30 e às 15h00; e ao Sábado, com marcação prévia de 3 dias, e um número mínimo de 4 pessoas.
. Existe a possibilidade de reservar provas com refeições e/ou tábua de queijos e enchidos regionais.
. Em todas as visitas, recomenda-se confirmação de disponibilidade e marcação prévia.
. Adaptado a pessoas de mobilidade reduzida.
Horário da loja:
. Das 10H às 17H, de Segunda a Sexta.
. Encerra aos Sábados, Domingos, feriados e nos dias 24 e 31 de Dezembro e 2 de Janeiro.