Numa época em que tentamos cada vez mais despertar para o amor ao “terroir”… magia se faz quando um produtor nos abre as portas de sua casa, apresenta a sua família e nada nos esconde.
Se “terroir“, do latim “territorium“, significa em sentido restrito “uma extensão limitada de terra considerada do ponto de vista das suas aptidões agrícolas” e representa vários factores que vão ser responsáveis pelo cultivo da videira, e pela consequente qualidade da uva e do vinho, como a geologia, a topologia ou o clima… é uma terminologia que acaba por ter tanto de complexa quanto de redutora… isto para os que, como nós, valorizam o “terroir emocional“, como representação do que vale ou o que representa para nós… ou até a forma como o mesmo se “encara”…
Mais do que comprovado um destes dias na Quinta da Boavista, onde são produzidos os vinhos Terras de Tavares e Torres de Tavares…
aqui “What you see is what you get”!
E tanto assim que logo à chegada o Terroir nos pregou uma partida, quando “atascámos” o carro nas ditas Terras de Tavares. Sem rancores, e nada que nos tivesse atrapalhado a prova, após sermos “salvos” pelo produtor João Tavares de Pina. O homem de quem se fala, o homem do momento… e estamos a referir-nos não só, mas também, ao recente destaque no suplemento Fugas do Jornal Público, em que é apelidado de “wine freak“, e descrito como alguém “alheio a modas ou tendências” (…) “que pratica uma “agricultura quase selvagem”, fiel à máxima de que os vinhos têm que ser tão só a expressão das uvas e da terra onde foram criadas”.
Um produtor que pretende cultivar a vinha de forma sustentada para obter produções baixas e naturais, em compromisso com a natureza, respeitando-a o mais possível e com recurso à menor intervenção, acreditando realçar todas as suas qualidades e respeitar o carácter das castas. Apenas lançando os vinhos para o mercado quando considera estarem aptos para consumo. Se isto é ser freak ou simplesmente “honesto” é discutível, mas dificilmente haverá discussão quanto à qualidade, charme, interesse e carácter inconfundível dos seus vinhos.
Na Quinta da Boavista tivemos oportunidade de provar algumas das suas referências:
. Torre de Tavares Síria 2009
. Torre de Tavares Bical Cerceal 2007
. Torre de Tavares Encruzado 2008
. Rufia 2012
. Torre de Tavares Jaen 2008
. Terras de Tavares Jaen 2007
. Terras de Tavares Touriga Nacional 2008
… num final de tarde em que foram desfilando para prova, calmamente, acompanhadas de uns petiscos preparados pelo próprio dono da casa. O que, para além de tudo o mais, veio demonstrar duas coisas, primeiro o carácter gastronómico destes vinhos… muito bom!… e segundo que o João Tavares de Pina não é um homem do mundo etéreo mas sim do mundo real e mundano! Posto o que nos levou em peregrinação até à sua adega (onde nos servimos, para além de outros, do seu Jaen 2008 que rapidamente nos conquistou!), guiou-nos pelo campo até aos seus cavalos (a Quinta tem criação de cavalos) e deixou-nos entrar onde normalmente mais custa deixar entrar os convidados… na sua cozinha! Onde fomos conversando e seguindo as receitas do que ele mesmo ia preparando… ceviche de atum com flôr de sal (e cebolinho, salsa, cebola picada, um toque de vinagre balsâmico, azeite e alcaparras), tártaro, língua estufada e tantos outros petiscos, que passado alguns copos de bom vinho fomos deixando de apontar…
Momentos assim são um luxo é verdade, mas que estão ao alcance de todos os que se interessem pelo vinho e pela natureza.
A Quinta da Boavista, data de finais do séc. XVIII, e é constituída por 50 hectares distribuidos entre vinhas, pastagens e criação de cavalos de desporto. Situa-se na Zona de Penalva do Castelo, no vale do rio Lodares que atravessa a propriedade… está preparada para o enoturismo e pode receber-vos! … e quem sabe o que acontece se baterem à porta da cozinha?! Podem ter uma surpresa de bons vinhos e petiscos.
Nestas “coisas” normalmente espera-se que digamos quais os melhores vinhos ou os que gostámos mais… não é tarefa fácil, aqui até a água que passa debaixo da vinha é boa, leve e mineral… só vos podemos dizer que o Encruzado 2008 e o Jaen 2008 serão residentes em nossa casa. Tudo para se beber até ao tutano, e nada de mainstream…